A jovem Ana Margarida Azevedo é umas das voluntárias da APARF. Esta jovem, com 23 anos, partiu para Moçambique, como voluntária para trabalhar, durante 1 ano, no projecto “Por um Mundo sem Lepra”.
O Jornal “O Amigo dos Leprosos” entrevistou-a para saber quais as suas motivações e objectivos.
Jornal – Ana quais são os motivos que te levam às missões como voluntária?
Ana Margarida – Desde criança sempre estive muito ligada, de forma muito activa, à Igreja. Era a catequese, o coro, a ajuda nas festas da Paróquia, etc.
Aos 16 ou 17 anos comecei a querer dar mais de mim, a comprometer-me com os ideais e a fé que tinha aprendido e vivido até aí. Comecei então a dar catequese e nessa altura formamos o Grupo de Jovens (um grupo de Pré-encontro do Movimento Encontro de Jovens Shalom). Foi também nesse ano que fui pela primeira vez a Taizé, uma aldeia ecuménica de oração, em França.
Por algum tempo isso pareceu-me suficiente, mas, em Janeiro de 1998, fiz o Encontro Inicial no MEJ Shalom, o que também dá um grande impulso para o compromisso cristão, para “Espelhar o rosto de Cristo jovem”. E no início de 1999 (aos 19 anos) as minhas interrogações voltaram: “Será que é só isto que Ele quer de mim?”
Eu tinha de descobrir a minha vocação, então iniciei uma caminhada de Acompanhamento Vocacional, com um padre da Comunidade Shalom. Mas tornou-se incompatível namorar e fazer o acompanhamento ao mesmo tempo, então abandonei esse discernimento, sem porem esquecer a minha inquietação.
Só agora associo que esse chamamento ocorreu após ter recebido o Sacramento do Crisma, a 18 de Maio de 1996 (4 dias antes dos 17 anos).
Mas como descobri a minha missão?
No Movimento Shalom assumimos o compromisso de ler e meditar a palavra de Deus diariamente. Sei que não sou muito fiel a esse compromisso, mas tento cumpri-lo.
Então, nessa altura em que andava mais inquieta com o chamamento a “fazer algo mais”, numa noite, na minha oração antes deitar, pedi que Deus me desse um sinal ou me ajudasse a encontrar a resposta… e abri a Bíblia numa página qualquer. Calhou-me a leitura de Marcos 1, 40-45 sobre a “Cura de um Leproso”.
Nesse dia, e eu acredito que nada acontece por acaso, tinha chegado no correio o Jornal “O Amigo dos Leprosos” para a minha mãe, que já há alguns anos participa na campanha do Dia Mundial dos Doentes de Lepra com os alunos da Escola onde lecciona, mas eu dei-lhe o jornal sem ligar a nada.
E, ao ler a leitura sobre o doente de lepra, senti a resposta!
O meu mano Jesus respondeu à minha pergunta.
No dia seguinte peguei no Jornal e fui a lê-lo no comboio. Este número falava justamente dos projectos que a APARF apoiava para combater a Lepra e todas as lepras, por esse mundo fora.
Senti, no coração, que era chamada para ir ajudar esses nossos irmãos doentes. E, poucos dias depois fui à APARF e disse que queria ir para as missões num projecto da Associação.
Radical? Talvez! Eu tinha apenas 20 anos.
Mas sinto-me bem e aqui vou eu. É o projecto de Deus para mim, pelo menos por um ano.
Jornal – O que vais fazer na Missão?
AM – Levada pelo chamamento que senti, o meu objectivo principal é Trabalhar Com e Para os Doentes de Lepra.
Para isso fiz um curso de Leprologia para pessoal paramédico (curso intensivo de 40 horas no Sanatório de Fontilhes – Espanha), onde aprendi a prevenir, detectar e acompanhar o tratamento do bacilo de Hansen (a Lepra).
Porém as dificuldades destas pessoas são mais que muitas, e não se consegue tratar uma doença sem corrigir primeiro as suas causas. Então, eu vou fazer o que for preciso.
Penso, ainda sem conhecer na prática a realidade, que vou trabalhar em três vertentes:
– Saúde
- Detectar novos casos de lepra
- Iniciar e acompanhar o tratamento
- Formar para a prevenção e detecção da doença
– Educação
- Tentar colmatar a falta de professores
- Leccionar Matemática
– Pastoral
- Dar catequese
- Integrar-me na comunidade católica da zona
Jornal – Que mensagem queres deixar aos jovens em geral e à Juventude de Raoul Follereau em especial?
AM – “Jovens, recusai pôr a vossa vida na garagem.” (Raoul Follereau)
Se sentirem uma inquietação a fazer mais pelos outros, alimentem essa ideia.
É na juventude que se pode arriscar a ser Feliz do modo como sonhamos.
E se fores chamado a um compromisso mais radical, não tenhas medo, nem lhe cortes os pés antes de crescer. Coragem! Força! Vai em frente!
Quando me dizem: “Eu não tinha coragem”.
Apenas respondo: “Não é coragem, é Projecto de vida. Para «trabalhar para comer e comer para trabalhar» vou ter muitos anos depois.” Claro que não penso que a vida futura seja só isso, mas é na flor da juventude que temos garra para desafiar o Mundo.
Por isso o meu momento é Agora. E o teu, já chegou?
Ana Margarida (Voluntária da APARF)