Manhãs do Chibuto
7,30h: a caminho do Hospital vou sendo saudada pelas crianças que me honram com o apelido de Amiga. Não sei quem são, não sei os nomes delas. Mas somos amigas.
– Ámiga! Bom dia.
– Lichile, Amiga!
Sorrisos lindos, gestos envergonhados quando as afago… são tão bonitas!
Chego ao hospital feliz pela caminhada cheia de infantis (e não só) bons dias.
Entro no alpendre e à minha direita, na direcção oposta para onde me dirijo já está o grupo de mamãs e das crianças.
Imediatamente várias mãos se erguem a fazer adeus, vários sorrisos de contentamento se desenham nestes rostos amigos. Eu retribuo e resisto à tentação de ir lá directa, mas na “cozinha” (isto é, quatro paredes negras albergando três grandes fogueiras) espera-me um panelão cheio de água quase a ferver onde irei fazer a multimistura para as crianças. E também para alguns tuberculosos e mães de prematuros, presença muito frequente no hospital.
Assim que a papinha começa a ferver, lá vou eu directa à enfermaria para o momento mais temido do dia: a consulta ao livro de óbitos. Bem! Nas últimas seis semanas só morreram três crianças de mal-nutrição! Porque de malária, anemia grave, sida… morreram mais do dobro.
Muito triste.
De seguida, vou “passar revista às tropas”. Bom dia, Amiga das crianças! Bom dia mãe das crianças. Ou mais personalizado: Bom dia, amiga de Maria. E, por pura simpatia, “metem-se” comigo, imitando na perfeição o meu tom: “Prato e Xipune!” (xipune=colher, do inglês spoon). Esse será o sinal de que as papas estão prontas.
(Continua…)
Ana Maria Oliveira
(Voluntária APARF)